Política e Culinária
Por Édipo Ferreira
Eu deveria ir à Itaboraí para escrever sobre algum botequim, prato ou comida que por lá encontrasse. Mas não achei nem um boteco aberto: o comércio estava fechado, em razão da passeata. No lugar da linguiça, da batata, do feijão e do arroz: as vuvuzelas, os tambores, apitos e (acreditem) um berrante.
Ilustração: Carolina Souza
No lugar dos clientes fazendo suas exigências rotineiras, uma multidão revindicando melhorias na qualidade de vida. Maravilhei-me com aquele mar de gente reunida: desta vez, o agrupamento não era para venerar alguma estrela do pop nacional, e sim para milhares de contribuintes mostrarem seus descontentamentos com o prefeito. Não avistei moenda triturando cana, barraquinha de milho, nem sorveteria ambulante.
Nada. Não tinha nada aberto. Barraquinha de cachorro-quente, trailer com hambúrguer a R$ 3,50. Não vi a tia do açaí, o tio do feijão no copo, o cara do suspeito churrasco, nem a tia do angu à baiana. Ninguém da culinária urbana de Itaboraí.
Conheço alguns bares na terra do Visconde. Diversos botecos e suas peculiaridades, como, a título de exemplo: fregueses de distinta renda frequentarem o meso barzinho, advogados financeiramente bem sucedidos tomarem pinga em pé-sujo, "flanelinhas" tomarem chopp em bares suntuosos e etc e tal.
Itaboraí mobilizou centenas de pessoas que buscavam, dentre tantas outras coisas, melhorias na mobilidade urbana, na saúde e na educação. Itaboraiense de RG, desejo que a cidade cresça sem deixar de atender as demandas cobradas na passeata. Torço para que o comércio reabra as portas, em especial os bares e botequins.